quarta-feira, 26 de agosto de 2015

A PORTA


Entrei numa sala cuja porta estava escrito Mundo, ao entrar aquela sala - que por sinal estava lotada - fui recebido por uma recepcionista uma mocinha um tanto antipática de nome tempo. Não foi de muitas respostas apenas pediu que eu esperasse junto aos demais.
Naquela bagunça onde me encontrava às vezes fazia frio logo alternando para calor, tinha boas poltronas e uns banquinhos aos quais tínhamos que nos acomodar ao decorrer da espera sem falar das brigas, pois todo mundo queria o melhor lugar, e, num piscar de olhos seu lugar era tomado e pra os mais infelizes restava somente aguardar em pé mesmo.
Nessa constante impaciência me via sentado a esperar pela minha vez cercado por tantas pessoas. 
Como odiava estar ali.
Era confusão por tudo, água tinha pra todo mundo, mas os insatisfeitos sempre queriam mais, havia os que roubavam comida e por causa disso uns ficavam sem comer.
Nesse ambiente havia uma porta e nela uma placa escrita VIDA e aqueles que eram, por fim, chamados e nela entravam não mais saiam.
 Nesse período comecei a me rebelar, reclamava com a recepcionista, pois havia muita gente chegando depois de mim e passando na frente, era tudo injusto demais aquilo ali dentro, tudo estava uma bagunça e que alguém deveria fazer alguma coisa – por Deus – que alguém orientasse aquelas pessoas!
Ela simplesmente mirou-me profundamente e disse que não podia fazer nada e que eu tivesse paciência e com relação à desordem, explicou-me que havia ali cartilhas para serem lidas e obedecidas. Cartilhas essas que nos ensinava a ter paciência, falava sobre justiça, etc.
- Que desorganização. - pensei comigo.

Já estava mais que aborrecido de ficar ali junto àqueles animais... 
E foi ai que me deparei com uma pequenina janela. Nela me debrucei para ver o que havia lá fora. 
            Eu via uma rua tão agitada cheia máquinas, carros, pessoas andando para todos os lados, umas pareciam felizes, algumas com apressadas, outras nem tanto, umas triste, acompanhadas, solitárias, mas elas seguiam em frente.
Por um instante gostaria de estar ali respirando aquele ar da pressa, da felicidade, do encontro do inesperado.  Mas me via preso nessa sala aguardando pela minha vez. Sem saber o que aconteceria comigo se eu desistisse de entrar nela. Ou sair deste lugar e ir lá fora andar por entre os carros, ser livre para ir e vir.
Mas decidi ficar aqui e persistir pela minha vez.
Vez essa que mereço, pois esperei insistentemente e tenho mérito para recebê-la. Algo pelo qual a cartilha me ensinou com aquelas lindas palavras.
Por isso voltei lá e aflito disse à recepcionista - que droga de lugar é esse? Vocês estão pensando o que sou um idiota, vou ter que aguardar até quando hein? E você que nunca sabe de nada faz o que aqui então? Pois não é que essa criatura me respondeu cinicamente sem ao menos olhar na minha cara:

- Senhor é uma opção sua estar aqui aguardando ou pode sair pela mesma porta que entrou. Nós não temos como saber da vida de todos que acorrem aos nossos serviços, vocês que vem até aqui não buscamos ninguém em casa!. Cabe ao senhor aguardar ou ir embora!
Mas ao menos posso saber vou ser atendido? - Eu perguntei.

- Olha senhor todo mundo aqui vai ser atendido, porém tenha paciência.

Quanta injustiça! Cheguei aqui primeiro e muitos passaram na minha frente, irresponsabilidade, pois quem cuida disso – disse abrindo os braços abarcando todo ambiente - tinham que organizar melhor esse mundo.
A sala nunca esvaziava e cada vez mais chegavam clientes indignados, nervosos...
Já me via velho, cansado. 
Tomei a decisão de ir embora daquele lugar, aquilo não era pra mim, já estava me corrompendo com tanta maldade.
Ai uma beata me olhou ao sair da porta e me falou:
- Vai desistir? Quem desiste nunca alcança!
Ela tinha razão pensei comigo.
Então mesmo sem ser minha vez, eu fui até a porta da VIDA com toda a minha indignação e a abri. 
Todos estavam perplexos dizendo que eu não devia fazer aquilo, pois eu estava desrespeitando o tempo.
A porta depois de aberta por fora não tem mais como voltar. Pois gostaria de ter voltado e ter dito a todos que lá dentro era a saída para a VIDA que existe lá fora.
No mundo onde apenas esperei pelo tempo me chamar aprendi que às vezes cabe a mim a decisão de abrir a porta da VIDA e viver lá sem esperar pelo mundo.
Pois nem sempre a porta que está aberta nós leva a algum lugar.









                                                                                                                                                         MÔNICA PRADO