Entrei numa sala
cuja porta estava escrito Mundo, ao entrar aquela sala - que por sinal estava
lotada - fui recebido por uma recepcionista uma mocinha um tanto antipática de
nome tempo. Não foi de muitas respostas apenas pediu que eu esperasse junto aos
demais.
Naquela bagunça
onde me encontrava às vezes fazia frio logo alternando para calor, tinha boas
poltronas e uns banquinhos aos quais tínhamos que nos acomodar ao decorrer da
espera sem falar das brigas, pois todo mundo queria o melhor lugar, e, num
piscar de olhos seu lugar era tomado e pra os mais infelizes restava somente
aguardar em pé mesmo.
Nessa constante
impaciência me via sentado a esperar pela minha vez cercado por tantas pessoas.
Como odiava
estar ali.
Era confusão por
tudo, água tinha pra todo mundo, mas os insatisfeitos sempre queriam mais,
havia os que roubavam comida e por causa disso uns ficavam sem comer.
Nesse ambiente havia
uma porta e nela uma placa escrita VIDA e aqueles que eram, por fim, chamados e
nela entravam não mais saiam.
Nesse período comecei a me rebelar, reclamava
com a recepcionista, pois havia muita gente chegando depois de mim e passando
na frente, era tudo injusto demais aquilo ali dentro, tudo estava uma bagunça e
que alguém deveria fazer alguma coisa – por Deus – que alguém orientasse
aquelas pessoas!
Ela simplesmente
mirou-me profundamente e disse que não podia fazer nada e que eu tivesse
paciência e com relação à desordem, explicou-me que havia ali cartilhas para
serem lidas e obedecidas. Cartilhas essas que nos ensinava a ter paciência,
falava sobre justiça, etc.
- Que
desorganização. - pensei comigo.
Já estava mais
que aborrecido de ficar ali junto àqueles animais...
E foi ai que me
deparei com uma pequenina janela. Nela me debrucei para ver o que havia lá
fora.
Eu via uma rua tão agitada cheia
máquinas, carros, pessoas andando para todos os lados, umas pareciam felizes,
algumas com apressadas, outras nem tanto, umas triste, acompanhadas,
solitárias, mas elas seguiam em frente.
Por um instante
gostaria de estar ali respirando aquele ar da pressa, da felicidade, do
encontro do inesperado. Mas me via preso
nessa sala aguardando pela minha vez. Sem saber o que aconteceria comigo se eu
desistisse de entrar nela. Ou sair deste lugar e ir lá fora andar por entre os
carros, ser livre para ir e vir.
Mas decidi ficar
aqui e persistir pela minha vez.
Vez essa que
mereço, pois esperei insistentemente e tenho mérito para recebê-la. Algo pelo
qual a cartilha me ensinou com aquelas lindas palavras.
Por isso voltei
lá e aflito disse à recepcionista - que droga de lugar é esse? Vocês estão
pensando o que sou um idiota, vou ter que aguardar até quando hein? E você que
nunca sabe de nada faz o que aqui então? Pois não é que essa criatura me
respondeu cinicamente sem ao menos olhar na minha cara:
- Senhor é uma
opção sua estar aqui aguardando ou pode sair pela mesma porta que entrou. Nós
não temos como saber da vida de todos que acorrem aos nossos serviços, vocês
que vem até aqui não buscamos ninguém em casa!. Cabe ao senhor aguardar ou ir
embora!
Mas ao menos
posso saber vou ser atendido? - Eu perguntei.
- Olha senhor
todo mundo aqui vai ser atendido, porém tenha paciência.
Quanta
injustiça! Cheguei aqui primeiro e muitos passaram na minha frente,
irresponsabilidade, pois quem cuida disso – disse abrindo os braços abarcando
todo ambiente - tinham que organizar melhor esse mundo.
A sala nunca esvaziava
e cada vez mais chegavam clientes indignados, nervosos...
Já me via velho,
cansado.
Tomei a decisão
de ir embora daquele lugar, aquilo não era pra mim, já estava me corrompendo
com tanta maldade.
Ai uma beata me
olhou ao sair da porta e me falou:
- Vai desistir? Quem
desiste nunca alcança!
Ela tinha razão
pensei comigo.
Então mesmo sem
ser minha vez, eu fui até a porta da VIDA com toda a minha indignação e a
abri.
Todos estavam
perplexos dizendo que eu não devia fazer aquilo, pois eu estava desrespeitando
o tempo.
A porta depois
de aberta por fora não tem mais como voltar. Pois gostaria de ter voltado e ter
dito a todos que lá dentro era a saída para a VIDA que existe lá fora.
No mundo onde
apenas esperei pelo tempo me chamar aprendi que às vezes cabe a mim a decisão
de abrir a porta da VIDA e viver lá sem esperar pelo mundo.
Pois nem sempre
a porta que está aberta nós leva a algum lugar.
MÔNICA PRADO